O Reticências é uma manifestação que tomará São Caetano do Sul de 27 de setembro a 5 de outubro com intervenções artísticas a fim de chamar atenção do povo e das autoridades responsáveis e destas cobrar nossos direitos. Embasa-se no fato de que esta é uma cidade paleozóica no que se refere à valorização da Arte e que a população é encantada demais com a imagem de primeiro-mundo que primorosamente reveste sua natureza retrógrada pra perceber esta obviedade. Entretanto, esta máscara que se sustenta em números de IDH, números de escola e números de monumentos faz com que uma cidade tão de aparências torne-se justamente mais vulnerável a barulhos que a desnudem.
Mas desnudar por desnudar não entra aqui. Falar que há corrupção na política é rezar a mesma missa, mas dizer que o investimento na Arte em São Caetano do Sul é medíocre NÃO É. Tão habilidosos são os responsáveis em falar de cultura e escolas e de colocar eventos esparsos e batidos com cara de modernidade cá e lá, o público torna-se convencido disso. Só a classe mais diretamente afetada, os artistas, pode perceber com clareza. É nosso intuito desnudar isso através de nossa arte para uma população tão acostumada a acreditar que vive num vórtice de cultura, mesmo tendo que se deslocar de cidade pra ver até um mísero filme hollywoodiano.
Ainda há os governantes a fazer ver o quão proveitoso também pra eles seria investir na Arte. Além disso gerar mais dinheiro, imagem, promover cidadania e tantas outras coisas, é época de eleições e absolutamente não iremos nos partidarizar, mas sim deixar que nos abordem com suas propostas perante nossas reivindicações e deixar a nosso critério e de quem acompanhar nossa trajetória que decida o que fará com o próprio voto.
Temos artifícios para reivindicar nossos direitos, e usaremos os mais drásticos se necessário. Mas o que esperamos é o bom senso dos representantes da cidade em acatar nossas exigências para que todos nós tranquilamente possamos saborear os frutos. Então, primeiro nos estruturemos e chamemos a atenção da população e deles. Assim, passemos nossa mensagem até esperar o feedback. Daí pra frente, negociemos.
Queremos, em suma, que os cidadãos tenham maior controle e usufruto da verba que deveria ser dedicada à cultura em São Caetano do Sul. Nos reunimos recentemente com grupos manifestantes na Escola Livre de Teatro de Santo André e lá estão articuladamente batalhando pela instauração do Fomento. Aqui, sequer Conselho de Artistas e uso devido do Fundo Cultural temos, recursos elementares a qualquer município deste porte! Portanto, nossas exigências se estruturam nesses dois pontos:
- Exigimos a criação de um Conselho de Artistas para interceder junto à Diretoria de Cultura pelos interesses da população. Profissionais de diversas áreas e com sua devida competência hão de estar lá, não pessoas simplesmente à escolha dos próprios governantes.
- Exigimos a aplicação do Fundo Cultural, que implica numa verba destinada à consagração de projetos artístico-culturais por meio de editais durante cada ano. Assim o interessado terá autonomia de teorizar sua idéia e, se aprovada perante as demais, concretizá-la com patrocínio público.
O dinheiro destinado à Arte vai parar em outros lugares, que sabemos bem. Estranhamente o mantra "monopólio" e "caviar" veio à cabeça...
Nós do projeto Sentelha também contamos com a força de alguns grupos artísticos batalhadores dessa cidade, além de cidadãos questionadores, como vocês que estão lendo até agora provavelmente são. E assim, nos organizemos para deixar essa semana de manifesto (que antecede as eleições) o mais intensa possível.
Importante dizer que o Reticências tem uma cara. A manifestação não é barulho por barulho. Não é anárquica nem esquerdista, ou ao menos não se preocupa em atribuir nenhum desses nomes. Há de ser cuidadosamente organizada e se embasar em pormenores para não queimar a classe artística nem dispensar o apoio que encontramos na Lei. O intuito primário é defender a classe artística, o que é estar defendendo as demais classes em qualquer categorização. Não é partidária. mas tem caráter político, uma vez que implica numa aprovação de Lei. E, acima de tudo, é artística. Que nos superemos em perspicácia, estética e ousadia. Não somos matemáticos para simplesmente expôr estatísticas e cálculos, somos artistas; portanto, em nosso ato de afrontar, rebusquemos o que sabemos fazer melhor, não só levando nosso peito àfrente, mas também pintando um belo brasão a reluzir no meio dele.